Realidades Paralelas

Brasília, dia 23 de fevereiro. Encontrei Joana a caminho de um restaurante no final da Asa Aul. Ela andava entre os carros de cabeça erguida e um olhar que atravessava o tempo. Atravessava as pessoas, as quadras, a fome. Por isso que reencontrá-la dentro do restaurante foi qualquer coisa parecida com uma coincidência. Eu estava lá para almoçar, ela, para barganhar um copo de suco. Do alto de sua elegância, o mau cheiro da vida das ruas quase surpreende. Joana leva nas mãos o que diz ser os originais de um manuscrito sobre o crime organizado no país. Quem se aproxima dela é logo entrevistado. Pediu uma caneta, que a dela já havia se perdido: "Meu caro, a que Comando você pertence?"

Novos Candangos

Brasília, dia 19 de fevereiro. Em homenagem aos 80 mil trabalhadores que construíram a cidade de Brasília, Bruno Giorgi ergueu a escultura em bronze Os Guerreiros, em 1959. Cinquenta anos depois, Os Candangos - como ficaram mais conhecidos - acompanham uma nova geração de operários que trabalham na reforma da capital.

Sem Fantasia

Brasília, dia 17 de fevereiro.

Lavagem dos Três Poderes

Brasília, dia 16 de fevereiro. Dona Alice usa a mangueira para lavar a Praça dos Três Poderes. Ela começa à porta do Supremo Tribunal Federal. Do lado oposto, fica o Palácio do Planalto. E à esquerda o Congresso Nacional. Mas tudo o que se pode ver é a Pira da Pátria de chama apagada.

Uma Cidade Sem Mar

Brasília, dia 15 de fevereiro. Lago Paranoá.

Tesourinha

Brasília, dia 14 de fevereiro. Essa cidade parece até que foi feita para os carros. "Mas a gente toma conta". Como as meninas que, no caminho de volta pra casa, escorregam na rampa interna do viaduto, indo em direção aos carros que fazem as tesourinhas no Setor de Clubes Sul, aos pés da Ponte JK.

Transcendendo

Brasília, dia 13 de fevereiro. Brasiliária segue o caminho para um novo nível de consciência pela rampa celestial do Museu Nacional.

O Corpo que vai

Brasília, dia 12 de fevereiro. Depois de vagar pelas calçadas desertas da cidade, ele retorna para se rematerializar na existência do gari da W3 Sul.

Cidade Labirinto

Brasília, dia 11 de fevereiro. Brasiliários são controlados por complexo conjunto de códigos de civilização. Luzes vermelhas têm o poder de interromper o fluxo de grandes massas de grupos sociais. Dablius três, eles dois, eixões e asas. Elevados, viadutos. Para seguir à esquerda, tesouras à direita. Aqueles que não se adaptam entram em realidades paralelas ou são expelidos para fora do mundo. Nesse caso, um ônibus espacial se prepara para decolar.

Pankararu

Brasília, dia 3 de fevereiro. O líder Pankararu posa para foto ao lado das emblemáticas torres do Congresso Nacional. Ele esperou o presidente da República no meio do Eixo Monumental, ao lado de outros guerreiros que empunhavam lanças, arcos e flechas. O trânsito foi desviado. Mas apenas um assessor da presidência apareceu. Os Pankararu, que vieram da beira do Rio São Francisco - onde vivem na divisa entre Pernambuco e Bahia - cansaram de conversar com porta-vozes. Querem o fim do projeto de lei que muda a estrutura da FUNAI, e o acordo tem que ser feito entre os dois líderes maiores.

SOS

Brasília, dia 30 de janeiro. Júlia interdita o espaço e escreve em letras garrafais para que todos possam entender..Essa área verde fica do lado da sua casa, mas está ameaçada. A especulação imobiliária quer o lugar para construir apartamentos. A construtora Antares conseguiu autorização para o empreendimento. A Associação do Parque da Sucupira, o Fórum das Ongs do DF e o Movimento Cerrado Vivo reagiram e uma liminar suspendeu temporariamente a autorização. Uma manifestação popular chamou a atenção para o caso. A violência contra o meio ambiente e contra o plano piloto (original) de Brasília estão na mira da UNESCO, que enviará uma equipe à cidade em junho para avaliar o título de Patrimônio da Humanidade.